quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Lógica para amadores

A lógica está por todas partes
invade-nos uma matemática milimétrica,
uma geometria precisa de proporções tangíveis e relações exatas,
de normas fixas
de realidades que asustam de tão imutáveis
esmáganos sua objetividade exponencial, por realista, por sincera,
por nos cuspir na cara a nossa imperfeção sumisa feita de retalhos
que em nada podem se comparar
com a excelência da parábola descrita pelo voo rasante duma gaivota, que com suas asas acarinha apenas a escuma das águas,
com a exatidão das diagonais da cela duma insignificante abelha,
com a curvatura perfeita e infinita das elipses definidas pelos bucles do teu cabelo anelado nos meus dedos,
ou dos teus ombros arqueados, o corpo todo esticado disposto a me disparares
um beijo, morno e amargo, com sabor a tabaco de contrabando e rum barato,
com a impaciência dos teus vinte e cinco, trinta e seis, quarenta anos,
não se importa,
que a idade é apenas um dado no bilhete de identidade
um dado tão irreal que muda com o calendário
“Que achas?”
“Chegas uma vida tarde”
chegas quando já não penso em sexo esporádico, amantes bizarros
em colhidas imprevistas
chegas para me explicares que tão fácil é querer
um resplandor fugaz faz explodir minha sede
desaparece a coerência, a razão
bebo-te com ansiedade, de repente
revisando de memória cada fórmula, cada parte desta ecuação infinita
sem ter qualquer resultado
“Aqui ninguém falou em amor” 
mas de te devorar, de rabunhar as fronteiras do teu mapa
em qualquer cuarto emprestado




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