às vezes,
porque apareces ao longe, com miradas distantes,
inquisidoras,
essas que me submetem a um arrepio imposivel,
sei das tuas mãos de pianista trasladando-me a um mundo de carícias irreais
como sons de caracóis de mar diluidos em bramidos de ondas bravas, selvagens,
como teu rosto na sombra ocultando o mapa dos antojos sob a tua pele de bronze que ameaça caveira de santo, ungido,
a me condenar pelos meus pecados,
insignificantes,
como tu, como eu própria, como nós, dois,
sem se atreverem nunca a ser um,
sei que me faltas e me completas como peça de remate da minha inacabada,
imperfeita,
dolorosa existência condenada a te seguir por caminhos tormentosos, onde,
a calma,
já não será mais possivel, ouvindo,
a perpetuidade,
o som exquisito da tua sonata,
inaudita e inaudivel, em clave de silencio,
silencio
que me arrasta a um abismo de loucura,
empurrando-me pelas costas quando busco um equilibrio,
improvável,
aguantando o peso do meu corpo apoiado nos talões já na beira do precipício,
e sei que estás quando está o teu misterio,
desconcertante presença de quem tem a alma blindada,
impenetrável,
mentres eu, zelosa da atenção que te presto, me disponho a vigiar o teu sono, alimentando o meu desejo com ese teu alentar repousado,
próprio de quem tiver consciência ligeira, imaculada,
apenas a dez centimetros,
apenas,
sem me atrever a tocar-te para não te desfazer em cinza, como em cada um dos meus sonhos, e ter de te reconstruir,
uma vez após outra,
com cada nova alvorada.
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