sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A palavra perdida



   
     Refletida no espelho via cair o cabelo como uma neve escura e filamentosa, e com ele, as minhas forças. A história trocava-se em mim, pondo ao Sansão no sítio da Dalila.
E depois perguntavas-me:
-Como te  atreveste a cortar o meu cabelo?
Passando a tua mão de pomba pelo meu corte garçom.
- O cabelo é vivo, cresce.
-Mas como foste capaz...
e capazes se volviam também meus pensamentos de voar sozinhos e chegar mui longe apenas roçando a pele do teu braço direito, sentada ao teu lado para não te deixar ver-me os olhos, e na mentres contava as borbulhas que  fugiam da cerveja e te ouvia alagar o meu low kick coa guarda esquerda, a chuva deitava-se fora, mansa e pura, e eu desejava estar  baixo dela, sentindo-a em toda mim, por lavar-me do contato lene coa tua pele morna, doce, morena, a penas uns centímetros que eu extrapolava para imaginar o resto, acendida já a minha imaginação com os teus dedos ágeis enleando um cigarro, que estimulava o meu desejo de anular a todos aqueles que nos rodeavam, desfaze-los só com os mirar, querer que desaparecessem  e ficar sozinha contigo.
Mas que posso ganhar com o que penso se ainda meus pensamentos não viram em realidade, se careço da capacidade de os materializar o sonhado.
-Quando será outra vez o que era?
e passavas a mão coma peite por entre minhas guedelhas despeitadas que buliam entre teus dedos coma serpes vivas
-Para a primavera estará ressuscitado
-Mas quem sabe se eu chegarei lá...
(tinhas mui fixe que o teu caminho te afastava de onde eu estava)
-Pois se ti não estás, também não importará tanto a longura.

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